CRESCER

Hoje amanheci "endubida" e descobri que não tem mais ninguém para cuidar de mim, a não ser eu mesma, e é claro o Matheus, que muito gentilmente me perguntou se estava gripada e tratou de buscar um remédio que "desendubisse" minhas narinas, mesmo fora da validade. Claro que não usei, mas ele não precisou saber disso. Somente agradeci, muito tocada por este gesto de um menino de 7 anos de idade.
Há muito tempo tenho estado incomodada, internamente, com essa coisa de crescer, não longilineamente, até porque não passo mais desses 1,60m mal medidos, mas com o amadurecimento, psiquicamente falando. Falei pra minha terapeuta que há tempos tenho que fazer minhas coisas, meu almoço e resolver meus problemas sozinha, daí ela me disse: “isso é amadurecimento, Bárbara”. E quando digo há tempos não é exagero. Lembro-me que parte da minha infância ficava sozinha em casa pela manhã, isso quando a Dona Joana “Infantil” não ia pra lá tomar conta de mim, e eu já resolvia minhas coisas sozinha, até porque os adultos saíam para trabalhar e as minhas irmãs estudavam, e eu desde então preguiçosa, estudava a tarde, porque não tinha cristão, pagão e ateu que conseguisse me fazer acordar cedo.
Lembro-me de lavar meu uniforme, porque eu queria aquela blusa branca como nuvem e nessa época não existia o poder de “Vanish”. Lembro de fazer purê de batatas para acompanhar a carne assada para o almoço, e isso deve fazer tempo mesmo, porque não gosto de carne assada há muito tempo também. Lembro de unir as cadeiras da cozinha para pular elástico, até porque tinha que ir treinada para a escola, para poder ganhar das minhas amigas. Lembro de fazer meus penteados com aqueles enfeites feitos de cadarço de tênis, com aquelas cores bem discretas: “verde cheguei”, “rosa cheguei”, “amarelo cheguei”. Lembro que às vezes almoçava só, porque tinha que sair de casa antes de uma da tarde, horário que geralmente minhas irmãs não haviam chegado, mas na verdade eu tinha companhia sim: da Blosson, da Angélica, da Priscila (aquela cadela!). Lembro de estudar sozinha. Lembro de ir e voltar sozinha do colégio, na maioria das vezes, isso quando a Andreza não ia me buscar e me trazia no “macaquinho”; quando meu pai não ia me buscar e pagava um hambúrguer e uma fanta uva na Cairu (isso sim faz tempo!). Lembro de muitas outras coisas que eu fazia só, contribuindo para o meu exercício de amadurecimento.
Eu seria injusta se dissesse que na infância, na adolescência e mesmo já na vida adulta ("disque"), nenhum familiar meu se preocupasse comigo, até porque quando adoecia fazia questão de chamar atenção de todo mundo, fazendo manha e drama. E pode ser também que o que eles me davam fosse suficiente para eles e não fosse pra mim e o que eu queria, nunca recebi. Mas isso é coisa que se resolve em divã, cuidando da minha criança interior.
O que sei agora é que com quase 30, mas com cara e corpinho de 18 (ha!ha!ha!), eu amadureci e tenho que continuar a fazer minhas coisas, meu almoço e resolver meus problemas, sozinha. Isso, (in)felizmente é CRESCER.

Comentários

  1. Babi, belo texto! fiquei aqui pensando também na minha infância e em como dei meus pulos, principalmente depois da morte da minha mãe.
    Mas é isso aí, agradeço por esse amadurecimento.
    mas que quando a gente fica doente dá uma vontade de ficar no colo, dá! longe então, nem fale...
    bjs

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  2. Alguém te disse que esse famoso "crescer e amadurecer" doía? Pra mim não falaram não. Disseram que não era fácil, mas não que podia doer. Cara, às vezes dói mesmo, mas faz parte e o resultado - para pessoas como você, que sabem amadurecer - é sempre feliz!
    Bjs,
    Moema

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  3. Irmã, você sempre foi madura, acho que já nasceu assim... E é por isso que SEMPRE, SEMPRE me inspirei em você pra viver! Voltei a estudar por sua causa. Você é o nosso orgulho, Te amo muito.
    Aline.

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  4. ôh, Babi, crescer e amadurecer é difícil sim, mas também é muito bom porque te renova e traz auto conhecimento, tem que saber aproveitar as coisas boas dessa fase, que dói sim, mas essa dor passa, assim como tudo na vida.
    p.s: depois que li o texto me deu vontade de te dá um abraço bem apertado, fica bem

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  5. Ei Babi, muito corajoso teu texto. Sempre que me sinto assim, lembro de uma frase de um filme: "Sim, estamos todos sós. E, por isso, estamos todos juntos". Bjaum. Maira

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  6. O mais triste de amadurecer é saber que nossa amiguíssima está "dodói" através de seu blog, perder o contato do dia-dia, mas sei que a distâcia é só um obstáculo para amadurecer mais rapidamente. Te amo amiga!

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  7. vc esqueceu de mencionar que kelly aguiar tbm te fez cia nas idas e vindas da escola, eu ate te acordava..hehehe
    Tbm sinto esse amadurecimento e parece que td tive que aprender sozinha...hj tenho uma resposabilidade enorme nas maos...mas o importante e que aprendemos com isso...
    estou com mta saudades de vc !!!!!
    te amo

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  8. eu iaaaa !!! e chorei horrores lendo kkkk


    Andreza

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