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Mostrando postagens de abril, 2020

Sintonia

Escute essa canção que é pra tocar no rádio, no rádio do seu coração. Você me sintoniza e a gente então se liga nesta estação... Esta música vez ou outra irrompe na minha mente. Há duas semanas aconteceu. Corri pra pegar o celular e colocar para tocá-la no Spotify . Ela tem em si uma potência pra mim, me faz chorar um choro profundo e triste toda vez que a escuto e dessa vez não foi diferente.  Ela me remete a algum tempo na minha infância, bem tenra. Eu não tenho certeza quem ouvia essa música, mas lembro muito de Mãe Lucila ao escutá-la. Eu nem poderia me lembrar, só conheço Mãe Lucila pela memória alheia, quando minha mãe Eugênia ou tia Marga contam alguma história sobre ela, sempre relacionada aos cuidados que ela dispensou a todos da família Fonseca e ao seu perfume de Alfazema.  Eu deveria ter 4 anos de idade quando ela morreu. Mas lembro bem da minha revolta com sua partida e talvez essa seja minha primeira memória de infância. Eu olhava por uma janela de rótulas brancas q

Sete igrejas

Desde a infância eu e minhas irmãs costumávamos acompanhar nossa mãe na peregrinação as sete igrejas, toda sexta-feira santa que antecede o domingo de Páscoa. A única coisa certa nessa tradição era o fato de a realizarmos, mas como a fazíamos dependia de nossa disposição e boa (as vezes má) vontade.  Acordar cedo sempre foi um problema na família Fonseca, a partir da geração de mamãe. Então sempre planejávamos acordar sete horas da manhã e acordávamos às nove. Um corre corre para quem tomava banho primeiro, depois se arrumar, tomar café e ir para a parada esperar o ônibus. Em dias normais, o Cremação tinha uma frota reduzida, imagina em dia de feriado. Então mais perda de tempo, esperando o busão.  Nós visitávamos pelo menos três igrejas: Sé, Santo Alexandre e Carmo. As demais dependiam do sol, sede e fome.  Quando chegávamos a Catedral, o ritual era sentar, rezar, admirar as pinturas que retratam os santos (acho magnífica a de Santa Bárbara) e acender velas na lateral da igreja

Era pra ser mentira, mas é verdade

Alice parece não acreditar que já esteja há 15 dias sem poder sair de casa (o que considera um privilégio, quando sabe que muitas pessoas não tem a opção de parar de trabalhar neste momento), como parte das medidas de combate ao novo Coronavírus, anunciada pelo governo do estado.  “A coisa está mesmo muito grave lá fora", dizia ela depois de assistir as notícias sobre a incidência da doença na Itália. Ficou muito chocada e comovida com a fileira de caminhões levando os mortos para fora da cidade de Bérgamo, em sua maioria idosos, sem direito a velório e a presença dos familiares neste momento de despedida. Pensa em sua mãe e tia, sente uma tristeza lancinante. Já faz 15 dias que não as vê e  algum tempo que chora baixinho todos os dias. Tem sido inevitável para ela lembrar de Bill Murray em “Feitiço do Tempo”, quando então ri sozinha, em um dos raros momentos de distração da tensão cotidiana das últimas semanas. O filme é um clássico e um de seus favoritos e tem tudo a ver co