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Da série Memórias

As memórias de Alice pululam de lembranças do chamado “Clube Lagoa Azul” ou “Clubinho”, como até hoje é carinhosamente chamado. Formado por meninas e meninos, que logo se tornariam moças e rapazes, moradores da Travessa 14 de Março entre Diogo Moia e Oliveira Belo, eles ocuparam aquela rua como uma extensão das suas casas, ou mesmo fazendo daquela rua a casa deles, pois se fosse fazer gosto, como mães e pais costumam falar, manhãs, tardes e noites eram dedicadas às muitas brincadeiras, pegadinhas, peças de teatro, produção de jornal, namoricos, fofocas ou a simplesmente “ir pra porta”. Alice não se lembra do momento em que o clube se formou, mas pelo seu nome, sabe que ele surgiu juntamente com a repercussão do filme “Lagoa Azul” em suas sucessivas reprises na "Sessão da Tarde", e também desconhece os motivos da atribuição do título do filme como nome do Clubinho, mas o mesmo vigorou o tempo em que o Clube existiu, inclusive saindo ileso de uma tentativa mal sucedida de es

Aquela noite

Desde aquela noite, após assistir ao “O Incrível Homem que Encolheu”, a relação entre elas ficou marcada de um modo muito peculiar, afinal ninguém sai ileso, aos dez anos de idade, após uma sessão de um filme sobre um homem que encolheu até virar um átomo, depois de passar por uma nuvem de radioatividade, ao realizar um passeio de barco. Alice não saiu ilesa, nem mesmo Sandra, do alto de seus quarenta e poucos anos de idade. Como Alice só pode dar conta de suas memórias, pois lidar com memória é algo complicado, ainda mais alheia, então aqui vão algumas lembranças suas daquela noite. A TV era de 14 polegadas; o filme em preto e branco; e a sessão era como no cinema: no escuro. Se Alice não está enganada, já era madrugada, hora de criança estar na cama dormindo, mas ela estava acordada, pois era impossível dormir ao ver um gato perseguir um homem tão minúsculo e que a cada hora se tornava menor. Talvez Sandra não tenha obrigado Alice a ir para cama, pois aquele momento tinha algo de

Alice fez 30!

Alice recebeu uma péssima notícia recentemente: recebeu conceito insuficiente no trabalho final de uma disciplina da universidade. No entanto, a professora resolveu dar uma segunda chance aos alunos “insuficientes” e então Alice terá que refazer o trabalho para alcançar um conceito melhor. Porém ela reagiu de modo, no mínimo, inesperado a esta notícia, logo ela que introjetou até a autoridade do Papa em seu superego: deu de ombros e resolveu deixar o trabalho pra lá. Ela quer falar sobre seus 30 anos. Alice fez 30 anos e prometeu contar a um amigo como é chegar lá. E resolveu descrever a nova idade arrolando os pontos positivos e negativos. Fazer 30 anos e surpreender as pessoas que pensam que você tem 23 anos é algo sublime. Não conseguir mais vestir as calças jeans de numeração 36 de quando você tinha 23 anos é algo frustrante. Sair para jantar com os amigos, namorado, mãe, irmãs, sobrinhos e pagar a conta com dinheiro é algo emocionante. Ir para a academia como se você fosse um

Autosabotagem

Alice, está na hora de levantar, são sete e meia da manhã. Está bem, já vou levantar, mais dez minutos, vai dar tempo. Alice, acorda, são sete e quarenta da manhã, vais te atrasar pra aula. Hoje eu não vou pra aula, já decidi. Será que dá pra eu dormir mais um pouco?! Alice acorda, já são dez horas! Já não foste pra aula, levanta e vai fazer alguma coisa, ir pra academia, sei lá... Está bem, está bem, já levantei, não precisa gritar. Vou tomar banho, tomar café, me vestir e até eu acabar de fazer tudo isso já serão onze horas da manhã, já vai estar quase na hora do almoço. Ninguém vai pra academia na hora do almoço, com todo esse sol, mais tarde eu vou. Ah tá! Tudo bem, eu acredito. Sério, eu vou lá pelas quatro da tarde... Alice, são quatro da tarde, você não disse que ia pra academia?! É verdade, eu falei, mas tenho que ler este livro pra aula da próxima semana, acho que não vai dar pra ir a academia, porque quando voltar vou estar muito cansada e