Ainda acredito em Papai Noel

Eu gosto muito do Natal, das expectativas e manifestações de carinho geradas por ele: as confraternizações que reúnem amigos que não se vêem há pelo menos um ano; os abraços dados em encontros ocasionais nas ruas do comércio ou shopping centers da cidade; a arrecadação de brinquedos e alimentos em prol dos mais carentes. Os momentos de comprar os presentes também são ótimos, pois apesar do consumismo inerente, é sempre uma ocasião de reunir a família, assim como a noite do dia vinte e quatro de dezembro, que hoje em dia, em minha opinião, é muito mais expressiva que o próprio dia vinte e cinco. No entanto, em outro tempo, não muito distante, o dia 25 era mágico para mim e para qualquer outra criança que acreditasse em Papai Noel.
Toda criança tem um brinquedo dos sonhos, aquele objeto que geralmente é o mais propagandeado pelos veículos de comunicação e é também muito caro para alguns pais pagarem, mas a criança nunca entende isso. O meu era a Ferrari da Barbie.
Todos os anos, ao escrever a cartinha para o Bom Velhinho, lá ia meu pedido costumeiro: “Querido Papai Noel, gostaria de ganhar a Ferrari da Barbie”. Os meus argumentos eram imbatíveis: sempre passava direto de ano, tirava as melhores notas que me rendiam os primeiros lugares na classificação geral da série que estava cursando, era um pouco tola e mimada, mas meus rompantes de tolice eram despertados pelas minhas irmãs que implicavam comigo pelo fato de eu ser a caçula, mas não era malcriada para minha mãe nem para minha madrinha. Enfim, eu tentava. Só o que eu não sabia era que Papai Noel não existia e que todas as minhas palavras gastas não iam convencer ninguém e pelo que me lembro alguns Natais foram bem frustrantes.
Ao invés de ganhar a bendita da Ferrari, ganhava algum jogo e ainda vinha uma carta resposta do suposto Papai Noel me explicando porque havia ganhado um outro brinquedo em lugar do carro da Barbie. Acho que por dois anos consecutivos ganhei o jogo “Imagem em ação”, em duas versões diferentes. Admito que recebia alguns outros brinquedos da série Barbie: cama, fogão, geladeira, roupas, mas ainda sim não era a Ferrari.
Não conseguiria precisar aqui pra vocês, caros leitores, o momento da descoberta, da quebra do encanto da crença de que o Bom Velhinho não existia, arrisco que deva ter acontecido com oito ou nove anos de idade, mas o que importa aqui foi o que passei a fazer depois da descoberta.
Por pelo menos dois anos continuei escrevendo as cartas para o Papai Noel mesmo sabendo que ele não existia. O meu pedido, logicamente, continuou sendo o mesmo, aquele carro vermelho bonito, sem a capota em que a Barbie podia levar o Ken para passear. Entretanto, meus argumentos tiveram que ser alterados. Não adiantava argumentar utilizando a minha excelente colocação entre os melhores da escola, devido o fato de não tirar nota baixa e nunca ter ficado para recuperação ao longo de minha vida escolar inteira, porque ao chegar em casa mostrando o boletim com a nota dez em todas as disciplinas, o que eu ouvia era: “você não faz mais do sua obrigação, só estuda, não trabalha e não faz mais nada da vida!”. Pasmem, amigos leitores, a meritocracia não era um critério viável para o alcance do meu brinquedo de desejo. Tive que apelar.
Como disse a vocês, sou a caçula de três irmãs e tenho uma madrinha que me mimou a vida inteira, apesar dela dizer que não. E pelo fato das minhas irmãs se sentirem excluídas, as queixas e implicâncias recaíam todas sobre mim e quando não agüentava mais e cedia as amolações, saía correndo pelo corredor de casa gritando “oh, oh, para!” e batia a porta do quarto com toda a força que podia empregar naquele ato de tolice extrema. E a minha nova postura para conseguir finalmente ganhar a Ferrari da Barbie era não ceder às implicâncias das minhas irmãs e nunca, mas nunca bater a porta do quarto.
Não vou enrolá-los aqui e dizer que consegui meu feito, acho que pelo menos cheguei a tentar, mas nunca consegui, tanto que até hoje, quando elas ainda querem implicar comigo, me chamam de “Oh, Oh! Para!”. Os novos argumentos utilizados nas cartinhas para o Papai Noel creio não terem surtido efeito algum, cada ano que passava via o carro da Barbie se esvair de minhas mãos, os brinquedos que recebia eram cada vez mais distantes do mundo fashion da Barbie. Acho que nesse tempo também, mamãe descobriu que eu já sabia que Papai Noel não existia. Nunca perguntei isso pra ela, tenho medo de sua reação e da decepção que isso possa lhe causar... Estou brincando, leitores.
A decepção definitiva, que foi marco do momento em que descobri que nunca ia ganhar a Ferrari da Barbie, foi quando em uma manhã do dia 25 de dezembro, ao acordar cedo e me dirigir à árvore de Natal, me deparei com um par de bonequinhos idênticos, em que um tinha a roupa cor de rosa e o outro azul, que vinham em uma bolsa plástica transparente e que tinham o cabelo de fios de lã! O que era aquilo, o que significava aquilo, eu me perguntava, que Papai Noel é esse que tem coragem de dar um brinquedo desses pra uma menina de onze anos de idade que sonha em ter a Ferrari da Barbie?! Simplesmente desisti, leitores!
Nunca ganhei a Ferrari. Outros carros da Barbie surgiram no mercado e não me atrevia a pedir nem para minha mãe ou madrinha, quanto mais pra alguém imaginário! Uma amiga tinha o carro que por mim era tão cobiçado, daí ela me emprestava pra brincar. Ficava feliz da vida. Deixei de enganar a “Mamãe Noel” e parei de escrever as cartas, afinal já estava bem crescidinha, as pessoas no mínimo iam me tachar de retardada. Passei a ganhar roupas de presente de Natal da mamãe e isso passou a me deixar muito contente, até hoje inclusive.
Mas venham cá meus amigos leitores, se aproximem, preciso falar em voz baixa, pois tenho um segredo pra contar a vocês: sempre espero alguma coisa mágica ou no mínimo especial acontecer no dia 25 de dezembro. Acho que ainda acredito em Papai Noel!

Este é o meu presente de Natal a vocês que me acompanharam em 2010. Feliz Natal e Criativo Ano Novo a todos! Espero que continuemos juntos ou mesmo distantes em 2011, contanto que ligados através dessas histórias! Sintam-se beijados e abraçados. Com amor literário, Bárbara.

Comentários

  1. Mas venha cá, se aproxime, preciso falar em voz ALTA, acho que tenho uma irmã ES CRI TO RA!

    E Dizer que se ama em público é poeticamente constrangedor.

    TE AMOOOOOOOOO.

    beijos,
    Dani.

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  2. Irmã, muito, muito lindo seu "presente" pros leitores. Adorei lembrar de nossa infancia! Acho que ja sei o que vou lhe dar de presente esse ano... BJS, Aline.

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  3. Pô se eu soubesse q era a FERRARI o tão cobiçado presente VC nunca teria me achado no BOULEVARD. :)

    Parabens como sempre lindo texto, tá "joinha!!!" FELIZ NATAL!

    Ass. "Ajudante de Papai Noel"

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  4. Amiga farsante do escrever descontraído, plástico e envolvente, feliz natal atrasado! hehehe

    Que nunca nos falta a capacidade de nos reinventarmos... com papai ou outros seres fantásticos!

    Os significados se alteram, mas a magia continua!!

    Bjs.

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