Pirão de mãe é mais gostoso

Aos domingos minha mãe costumava cozinhar. Fazia comidas deliciosas para saciar o apetite das filhas, pelo menos de duas delas, uma é chata para comer, como diz Claude Troisgros. Lasanha, grão de bico com linguiça, bife, arroz e feijão preto, salada, bistecão com farofa e tantas outras comidas que ficaram na minha memória. 

Ela tinha um ritual para cozinhar: cortava os temperos, cozinhava, arrumava a mesa, lavava toda a louça, suava e ia tomar banho, não sem antes mandar a gente sentar e comer: “Não precisa me esperar". 

Quando voltava, exalava o seu cheiro de Mithus Manhã, servia a comida no prato e tacava farinha por cima. E comia suspirando, enquanto o suor ainda escorria pelo colo e se misturava com os respingos de perfume: “A gente toma banho e não para de suar", reclamava. Também pudera, remava um baita dum pirão.

Tinha magia naquele pirão. Eu a assistia comendo e ficava com água na boca, com olho grande para o prato dela,  na verdade: “Tu queres um pouco?", ela caía na besteira de perguntar. E sempre ouvia um sonoro sim, mesmo depois de eu ter almoçado. Então mamãe que havia preparado com amor, carinho e fondor aquele almoço tão saboroso, abria mão de seu prato de comida para a filha gulosa. 

Tinha mais do que sabor naquela comida, tinha cuidado, era o que trazia aconchego pra ela naquele momento. Depois de cuidar das filhas, ela buscava cuidar de si mesma. Afinal, quem cuida de quem cuida?

Hoje no jantar, depois de servir um ovo frito, frango desfiado, arroz e tomatinho para o Benjamin. Sentei, peguei um prato, coloquei arroz, frango e salpiquei bastante farofa por cima. Suspirei enquanto comia. Lembrei de mamãe e do quanto o pirão dela continua sendo mais gostoso.


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