Crônica de saudades de minha irmã ou Hoje voltei a ouvir música
Hoje é o aniversário de
minha irmã do meio. A mais divertida e destemida dentre nós três. Esta semana
inclusive li a chamada de uma matéria sobre isso: “11 razões por que os filhos
do meio são na realidade os melhores.” Não li a matéria, pois na verdade nem
precisei, estive comprovando isto a vida toda, quando ela me levava na saída da
escola para tomar banho de piscina na casa da amiga, sem avisar nossos pais;
quando ela ria alto comigo em filmes de comédia e ninguém pedia para eu rir mais
baixo; quando comíamos tanto que a narina abrindo era sinal de que não aguentávamos
mais nada, talvez uma fatia de pudim; quando jogávamos vôlei na cozinha com
bola feita de jornal dentro de uma sacola do Jumbo...
Não, ela não morreu! Atualmente
ela mora em outra cidade, o que já devo ter escrito mais de uma vez sobre isto
aqui, talvez como uma forma (inconsciente) de protesto. Mas a vida nos faz
tomar escolhas: ela escolheu ir e eu fiquei.
Ela escolheu ir, para bancar
um sonho ou um plano novo, pois talvez ninguém sonhe em morar numa cidade sem
cinema. Mas ela foi. Levou marido, filhos, cachorro, gato, malas e máquinas de
costura, outro sonho que ela bancou, ao se tornar costureira ou designer de
roupas ou estilista ou tudo isso ao mesmo tempo e fazer nascer sua Diadorim.
Neste meio tempo lá, ela
já se reinventou algumas outras vezes. Mudou-se com a família para uma nova
cidade, na expectativa de ir para uma terceira e agora voltou para a primeira.
Ufa! Me perdi entre tantas idas e vindas dela, apesar de eu continuar aqui, enraizada
como uma árvore (ironicamente meu apelido nos tempos de escola) com os pés no
mesmo lugar.
Novos sonhos ou planos significam
novos movimentos em nossas vidas, como costumava dizer minha terapeuta. E minha
irmã está sempre fazendo isso, destemida que é: abrindo e fechando portas, quiçá
deixando janelas entreabertas para novas oportunidades.
Hoje no aniversário dela,
além de aproveitar para fazer um novo e (in)consciente protesto, bateu uma
saudade descomunal. Senti o cheiro dela até no perfume que comprei e tenho usado
umas poucas gotas para render igual como ela fazia em nossa infância, ao tomar
o iogurte de forma que mal sujava a colher, só para me provocar, enquanto eu havia
acabado de tomar o meu em uma fração de segundos, esfomeada como sempre.
Bateu saudades dela, do abraço
e das gargalhadas, apesar de eu não ser uma pessoa muito carinhosa; das bainhas
de calça costuradas a dez reais, por um abraço do Benjamin ou depois te pago e
caía no esquecimento. Bateu saudades também das músicas que eu deixei de
escutar; dos filmes que me faziam gargalhar; dos livros que ainda nem li,
empoeirados na estante; das viagens que planejei mentalmente e não fui; da
cantora que quis ser e ainda não me tornei fora do banheiro; da escritora que
vende seus livros feito best-seller;
da vida que planejei no futuro, que até já se tornou passado e não aconteceu; dos sonhos que deixei pelo caminho e esqueci quais eram, pois fiz minhas próprias escolhas
e fiquei aqui... like a tree.
Hoje voltei a ouvir
música.
Muito legal, Babi! Nós, historiadores, estamos presos ou libertos nas palavras, escrever é maravilhoso. Sentir saudade de lembranças( parece um pleonasmo) é viver tudo de novo. Parabéns para sua irmã, parabéns por tão lindas lembranças. Beijo.
ResponderExcluirObrigada, querida Semíramis! Estamos sempre nessa constante "reinvenção" do passado mesmo.
ExcluirAs crônicas de memória são minhas preferidas. O saudosismo até têm uns tons de melancolia... Mas as lembranças são lindas, possuem sabor, cheiro e melodia! Talvez por isso o vivido é finito, mas esse lembrar é sem limites... Ahh.. adorei a referência à Diadorim!
ResponderExcluirParabéns Baby! É quero ler mais!