"Carolina em Carolina" ou a breve história de uma amizade

Carolina resolveu comemorar seu aniversário em Carolina. O que talvez pareça um clichê, pois quantas Carolinas já não foram a Carolina?! Mas Bárbara, sua amiga uterina, como ela costuma chamá-la, achou isso bem poético e ficou de escrever um poema intitulado, obviamente, "Carolina em Carolina". Mas Bárbara não conhece Carolina, a cidade, só conhece Carolina, a amiga, e é sobre ela (ou sobre a amizade entre elas) que escreveu esta crônica e não um poema, pois ela também não sabe fazer poema. 
Amigas desde o útero, de mães diferentes que engravidaram na mesma época e já colocavam as barrigas para conversar, dois lugares marcaram a história desta amizade para Bárbara: a casa da 14 ou o "clubinho" e a ilha do Mosqueiro. Na casa da 14, a diversão era garantida! O clube "Lagoa Azul" uniu as crianças da rua, entre elas Carolina e Bárbara, e deu vazão a criatividade e inventividade delas. Brincar de Barbie, polícia e ladrão, pira se esconde, pira cola americana; pular elástico, jogar cemitério, bandeirinha, cai no poço; quebrar a cabeça, braço e perna fez parte da infância de todos que faziam parte do clubinho e frequentaram a casa da 14, trazendo muita alegria para aquela criançada. Porém, um dos momentos que marcou a história desta amizade, foi um momento de tristeza: o enterro do soldadinho. 
Era sempre motivo de alegria e sorte achar um soldadinho na roupa, pelo chão, parede e havia um encantamento nisso, pois o coitado do soldadinho, tão frágil que era ou é (não sei se ainda existem soldadinhos), ficava passando de mão em mão, pois todos queriam pegá-lo e, sufocado, dentro daquelas mãos que o prendiam como se fossem conchas, para que ele não voasse, acabava morrendo. Em uma destas ocasiões, Carolina resolveu fazer o enterro do soldadinho. Numa cerimônia triste, testemunhada e levada adiante somente pelas duas amigas, o soldadinho foi enterrado num canteiro ou num dos vasos que ficavam na garagem da casa. Teve cortejo, velório, talvez uma canção, tristeza e depois gargalhadas. E aquele momento-segredo, de separação daquele soldadinho tão querido, foi guardado nas memórias das amigas, talvez de modo distinto, como um momento único e inesquecível e que as uniu até hoje. Numa conversa de pé de ouvido ainda dizem: "cadê o soldadinho?!", seguido de mais gargalhadas.
Mosqueiro, por sua vez, foi o tempo da cagada. (Vou meter cagada aqui, porque a história estava ficando triste.) Já adolescentes, passar as férias em Mosqueiro era o momento, talvez, mais aguardado do ano para elas. Era o tempo de andar da praia do Areão até o Murubira. Era o tempo de andar num movimento quase que infinito pelo Murubira para ver e serem vistas. Era o tempo da Nave, de dançar as marcantes do brega. Era o tempo de pegar táxi da Nave até a casa na praia do Areão e negociar em três reais a corrida. Era o tempo de comprar os brincos do hippie. Era tempo de levar a Isabella, filha da Carol com cara de boneca danada com os dentes separados, para brincar no pula-pula da Praça até ela ficar com as bochechas vermelhas e depois comer batata frita. Era o tempo de deixar a Isabella dormindo, antes de sair, e começar tudo de novo... 
Como dito, estes dois lugares foram os lugares que mais marcaram esta história de amizade e, curiosamente, eles já não existem mais. O que restou deles foi a própria amizade de Bárbara e Carolina e o compartilhamento desta memória afetiva entre elas. E falando em memória Carolina é como ela, capaz de guardar, reinventar e produzir cada vez mais novas histórias de sua vida, de seus amores, de suas amizades. Inclusive, ela está lá em Carolina agora, fazendo isso!

Feliz aniversário, Carol! Viva a vida com amor e alegria e acredite na capacidade de se reinventar a cada dia, mas sempre guardando da vida aquilo que ela nos dá de melhor! 
Com amor e agradecimento,
Babi, a amiga uterina. 

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