Alice quer ser escritora

É muito difícil cumprir o destino que se traçou ainda na infância devido às intempéries da vida. Alice, quando criança, conseguia encher todos os dedos das duas mãos com profissões que ela teria quando crescesse. Ela se recorda de três dessas profissões com muita facilidade: cantora, dentista e escritora. Ao ser questionada com a famosa pergunta “o que você vai ser quando crescer?”, Alice respondia: de manhã vou “dentistar”, à noite vou cantar.
Três coisas se tornam evidentes a partir dessa afirmação: Alice acreditava ser muito fácil ter mais de uma atividade profissional na vida adulta; acreditava no potencial de sua voz; e achava que dentista era a terceira pessoa do verbo “dentistar” no presente do indicativo!
Ao chegar à vida adulta, apesar de haver controvérsias quanto a isso, Alice ainda se arriscou em estudar profissões distintas, mas claro, como toda pessoa sensata optou por seguir aquilo que gostava e não necessariamente aquilo que daria dinheiro. Estudou ao longo de alguns anos, se graduou e ao começar a trabalhar foi “jogada aos lobos”, como costumam dizer pessoas já frustradas com suas escolhas. Felizmente para Alice, ela não pode parar de estudar devido a sua profissão necessitar de uma formação continuada (creio que todas precisem), então ela continua e em casa já virou até exemplo. Soube disso um tempo desse e ficou emocionada.
Ao longo de todos estes anos de estudo, já questionou diversas vezes sua escolha e já pensou em ser designer de interiores, advogada, jornalista, voluntária em estudos do sono, rica, etc. Alice e suas manias de encher os dedos das mãos. Mas diz atualmente estar feliz com sua decisão. Apesar não ter uma remuneração muito satisfatória, faz quase tudo que quer com seu salário e quando não consegue, ela se endivida, afinal, segundo ela, dinheiro foi feito para se gastar, mesmo aquele que não nos pertence.
Não pensem vocês, meus caros leitores, que Alice se frustrou por não ter sido cantora ou dentista. Ana, uma amiga de Alice, acabou de vez com sua vontade remota em ser dentista. Ao ser questionada com a também famosa pergunta “o que você não queria ter sido de jeito nenhum?”, Ana respondeu que não queria ter sido dentista e ainda reforçou: “que coisa mais deprimente deve ser passar o dia inteiro dentro de um consultório abrindo a boca dos outros!” Alice desistiu de vez. Em relação a ser cantora, esse sonho ela não abandonou. Inclusive canta todos os dias no banheiro, apesar de descobrir não ter todo aquele potencial vocal que acreditava ter na infância e de não saber cantar de modo correto as letras das músicas. Mas de uma coisa ela não desistiu...
Alice, caros leitores, Alice quer ser escritora.


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