Quando as coisas acabam

Acabou Cordel Encantado! E tenho que confessar que fiquei muito triste pelo fim da novela que assistia praticamente todos os dias, comentava com os professores da escola e utilizava até em sala de aula. Voltava rapidinho da escola em que trabalho só pra acompanhar aquela trama que misturou contos de fadas, cangaço, messianismo, Shakespeare, Guimarães Rosa e Euclides da Cunha! Mas na verdade, o melhor de assistir a essa novela era a companhia: Matheus e Mariana.
Assim como eu, eles voltavam ansiosos da escola em que estudam, correndo pelo corredor de casa, perguntando: “Babi, Babi, já começou Cordel?”, “me conta o que já aconteceu!”, “o Jesuíno já salvou a Açucena do Timóteo?”, daí logo começava a passar a abertura e a cantoria se iniciava: “(...) e os desatinoooos, também tivemos de vivê-los bem juntinhos, e os caminhos nos trouxeram para esse lugaaaaar, assim vamos ficaaaar (...)”. Todos os dias esse ritual se repetia. E todo fim de tarde era único, apesar de parecer igual. Daí, quando as coisas acabam, a gente não sabe mais o que fazer para preencher aquele espaço e tempo dedicado exclusivamente para aquilo.
Há dois então, desde o início da nova novela, as coisas já mudaram e esses dias já serviram de exemplo para o que vai ser daqui pra frente. Nós ensaiamos assistir o primeiro capítulo da nova novela, mas ninguém gostou. Então Matheus e Mariana resolveram assistir desenho. Eu fui fazer café, depois tomei banho, depois voltei para tomar o café. Fiquei mudando os canais e achei um de clipes, que era o menos pior naquele horário. Terminei o café, lavei a xícara, chamei pelas crianças para virem comer. Eles vieram e disseram com cara de triste: “Ah! não tá passando Cordel.” Eles sentaram, comeram e voltaram para assistir desenho. E eu fiquei ali sozinha assistindo os clipes. Quer saber... Desliguei a TV e fui ver desenho.
E assim nós vamos achando uma forma de preencher aquele espaço de tempo que dedicávamos a Cordel, assim como a muitas outras coisas na vida.