Antes e Depois

Alice, apesar da pouca idade, era uma solteira convicta, orgulhava-se disso e dizia: “Já até sou tia!”. Ia para as baladas, enchia a cara e falava para as amigas: “Podem escolher”, referindo-se ao sexo oposto, isto é, as amigas podiam escolher o carinha na balada que mais as atraísse que Alice os fazia ficar com elas. Sempre funcionava e não era pretensão dela. Agia da seguinte forma: chegava junto, puxava uma conversa, jogava uma cantada, apresentava o pretendido a amiga e como num estalar de dedos conseguia seu feito. Achava essa tarefa muito fácil, para ela os homens eram uns bobos, também pudera, ela passava cada cantada que não convém aqui citar.
No entanto, Alice era uma amadora consigo quando se tratava de assuntos do coração. Eventualmente ficava, sofria de “paixonites” efêmeras e em uma semana voltava a programação normal. Quando assistia Renée Zellwegger como Brigdte Jones sofria, porque queria encontrar seu Mark Darcy. Quando o filme terminava, Alice voltava a encarar a realidade sem Mark.
Estudos, trabalho e baladas eram a mola propulsora de Alice e ela orgulhava-se disso. Os amigos, pelo contrário, achavam que ela devia namorar, afinal ela era legal, divertida, cheia de histórias, inteligente, bonita e pouco modesta também. Até colocavam seu nome em barras de vestidos de noiva, em casamentos. Agradecia, preocupava-se momentaneamente com sua solteirice, mas permanecia aparentemente tranquila.
Alice começou a frequentar uma psicóloga. Não pensem, caros leitores, que fora em virtude da solteirice convicta, o motivo foi outro, mas a solteirice também entrava na pauta das sessões. Das muitas conversas de consultório, aprendeu uma lição: “permita-se ser conquistada”. E ela permitiu.
Alice conheceu Serginho, foram apresentados por amigos em comum, saíram algumas vezes, conversaram, sorriram um para o outro, mas não se cumprimentavam com dois beijos no rosto, isso fez com Alice se preocupasse. Pensava: “se ele não me dá nem dois beijinhos é porque quer ser só amigo”. Passou a conversar com as amigas sobre esse problema, pois para ela isso era um problema, que lhe diziam para conquistá-lo logo, afinal fazia isso bem. Mas ela respondia: “quero ser conquistada”. Os encontros acabaram, Alice viajou, se divertiu em uma cidade maravilhosa e voltou, para ser conquistada.
Os encontros voltaram. Alice passou a ganhar beijos, no rosto e na boca. Passou a ganhar rosas, gargalhadas quando contava suas histórias, abraços demorados, idas ao cinema, restaurantes e até mesmo a uma partida de futebol. Alice, em contrapartida, não pensou em outro presente e ofereceu-lhe seu coração. Não literalmente, senão morreria, enfim... Metaforicamente. Ele estava meio despedaçado, havia sofrido alguns baques, era desconfiado também, batia devagar e cauteloso. Alice relutou, mas seu coração passou a bater forte e acelerado, ficou cada vez mais vermelho. Isso não é uma alusão ao PT, até porque Alice estava P. da vida com o PT, ficou vermelho de paixão. (Tentei evitar este clichê, mas não consegui).
Alice começou a namorar, para alegria de muitos amigos, principalmente aqueles dos vestidos de noiva. Já dizia que amava, mesmo que em voz baixa e com a boca trêmula, mas amava, e como gostava desse sentimento. Entretanto, classificava-se como neófita no amor, encontrava-se na liminaridade. Dizia essas palavras propositalmente, para Serginho procurar no Google. E como aprendiz, cometia muitos erros, não orgulhava-se deles e continuava na ânsia de aprender mais. Tinha um professor muito paciente e bonito também, apaixonou-se por ele e agora Alice não queria mais parar de aprender a amar.

Comentários

  1. Mais uma história da série "Presentes", escrita para uma pessoa muito especial e muita amada!

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  2. Parece até que conheço essa tal de Alice...

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  3. Cara de sorte esse "Serginho", quem dera estar no lugar dele. Bjão.

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  4. Que lindo, Babi! Adorei:) não só o texto, mas a entrega pública do coração!

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  5. Que bonitinhoooooooooooooooo... :D

    Palmas para a Alice!!!!!
    Uma menina que é original até na hora de usar os clichês do amor...hahaha

    E que ela continue aprendendo o que tiver de aprender com a mesma felicidade, bjs!

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